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Não-violência como caminho de autodesenvolvimento

Atualizado: 8 de abr.


Antes mesmo de ser coach, atuando como advogada no mundo corporativo, a não-violência sempre me encantou como uma forma alternativa de resolução de conflitos. Quando fiz minha transição de carreira, esse viés continuou me acompanhando e pude descobrir o quanto a busca por uma abordagem não violenta também me guiava para um processo de profunda reflexão e mudança interior.

Por exemplo, um dos princípios de não-violência usado por Gandhi para orientar seus discípulos, a palavra em sânscrito Swaraj, tem me apoiado em meu autodesenvolvimento e nos dos meus clientes. O princípio significa: “Eu Rei de mim mesmo”, a consciência de que tenho autonomia e responsabilidade pela minha ação. Em outras palavras: “O Swaraj é o termo védico que pode ser traduzido também como governo (raj) de si mesmo (swa). Consistente com isso, o Swaraj não pode operar sem Satyagraha, a força da alma e do amor, que é a única arma legítima da não violência (Ahimsa) (USECHE, 2016, p. 77).”

Esse princípio nos convida a olharmos primeiramente para nós. Para o que precisamos. Para o que é importante para mim. Me ajuda a não culpar o outro e assumir a responsabilidade, não só pelas minhas ações, mas também pelos meus sentimentos. Em uma situação real, posso aplicar esse princípio a partir da minha auto-observação e do meu foco. Se observo um desconforto e percebo que meu foco está em julgar a ação do outro e não no que está vivo em mim, então não estou atuando de acordo com a não-violência. No entanto, se paro e me conecto comigo, com a situação que gerou o desconforto, tendo consciência sobre meus sentimentos e minhas necessidades, o foco sou eu, não o outro, estou agindo com base no princípio, estou agindo a partir da minha autonomia de ação. Isso não é simples.

Automaticamente falamos da ação do outro - o outro é bagunceiro, o outro é desorganizado, o outro não me ouve, o outro é egoísta, o outro fala demais, o outro sempre me interrompe, o outro usa todo o tempo da reunião. Se quebrarmos a barreira dos julgamentos e focarmos em nós, talvez o diálogo seja: Eu preciso de organização, eu preciso de escuta, eu preciso de suporte, eu preciso de espaço, eu preciso de igualdade, eu preciso de consideração.

Geralmente faço esse processo por meio de uma escuta interna ou por meio de um processo de escrita, na Comunicação não-Violenta chamamos essa prática de “auto-empatia silenciosa”. É um dos primeiros passos para se apropriar de uma abordagem de não violência em suas práticas diárias. Uma coachee compartilhou comigo o quanto a prática da auto-empatia e essa mudança de perspectiva transformou suas relações. Ela contou empolgada o quanto conseguiu se conectar e retomar a relação com um colega da companhia, com quem ela havia tido um forte desentendimento durante uma reunião - estavam sem conversar há meses e a situação estava atrapalhando o desenvolvimento e os resultados da área da qual ela era gerente. Ao mudar o foco e se conectar com o que realmente era importante para ela naquela situação, com os julgamentos e interpretações postos de lado, procurou o colega e iniciou uma conversa, buscando conexão, clareza e entendimento. A relação se transformou. A ação refletiu também na melhora dos relacionamentos entre as diferentes áreas que eles coordenavam na empresa. O quanto podemos transformar se mudarmos o foco também? Da próxima vez que um julgamento sobre o outro vier à sua mente, experimente mudar o foco, lembrar do princípio de não violência de Gandhi e responder à pergunta: O que esse julgamento revela sobre o que eu preciso?

Debora Gaudencio é Coach e Co-fundadora da Eight. Pesquisadora e Facilitadora em Comunicação Não Violenta. Apoia indivíduos a terem relações que os conectem genuinamente uns com os outros. debora@8coaching.com.br

Referências: ROSENBERG, M. Comunicação Não- Violenta. Editora Agora, 2003. LARSSON, L. Cracking the Communication Code. Editora Friare Liv, 2011.

Este artigo foi originalmente publicado na Revista Coach Brasil, edição 69 de fevereiro de 2019.

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