Estratégia com alma: o papel do conselheiro que escuta, conecta e provoca
- Renato Santos
- há 12 horas
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Tenho acompanhado de perto lideranças em momentos cruciais de transformação. Em muitos dos workshops que facilito, levamos o time a refletir de forma mais profunda sobre: “Quem somos nós?”
Antes de definir metas e indicadores, é preciso olhar para dentro. Para o que nos move. Para o que precisa ser deixado para trás. Para o futuro que queremos construir — com consciência, propósito e coragem.
É nesse ponto que a presença e escuta profunda deixa de ser um gesto relacional e se torna um ato estratégico. E o conselheiro consultivo, quando atua com presença e intenção, pode ser uma peça-chave nesse movimento.
Nos workshops que conduzimos com lideranças na Eight, trazemos duas abordagens que ampliam esse olhar sistêmico:
A Teoria U, de Otto Scharmer (MIT), que nos convida a mergulhar no passado, sentir o presente com profundidade e cocriar o futuro a partir de um campo de possibilidades emergentes. Vivemos num contexto de extrema complexidade e ambiguidade e isso não nos possibilita mais a dar respostas rápidas e de forma linear para as questões organizacionais.
A visão em quatro dimensões da organização da Antroposofia (Jair Moggi), que compreende a empresa como um ser vivo formado por Recursos, Processos, Relações e Identidade. Essa abordagem nos permite diagnosticar o contexto atual da organização, trazendo o que está funcionando bem e o que está disfuncional em cada uma das dimensões.
E onde entra o papel do conselho?
As boas práticas de governança sugerem que a estratégia percorra sete etapas:
1. Definir a identidade organizacional;
2. Realizar diagnóstico interno e externo;
3. Estabelecer objetivos estratégicos;
4. Desenvolver as estratégias;
5. Formular planos de ação;
6. Garantir comunicação e engajamento;
7. Acompanhar e ajustar com base em ciclos de melhoria contínua.
Mas o que realmente sustenta essas etapas é a conexão com a essência da organização. Sem isso, o planejamento vira formalidade. Com isso, a estratégia ganha alma.
O conselheiro que escuta, que provoca com perguntas poderosas, que lê o campo além dos números, contribui de forma única para manter viva a coerência entre cultura, propósito e direção estratégica.
Acredito que o desenvolvimento de uma habilidade definida na Teoria U pelo mestre Otto Scharmer pode ser essencial para o conselheiro: o presencing.
O presencing é a união das habilidades de presenciar (estar no aqui e agora consciente e conectado) com a capacidade de sentir, que nos conecta de forma mais sensorial com o campo que estamos vivenciando.
Dessa forma, nos conectados com o presente e ao mesmo tempo com as forças que nos direcionam para co-contrução de futuros de maiores possibilidades.
Organizações que possuem um plano estratégico claro, conectado à sua identidade e com capacidade de evolução constante, saem na frente. Elas conseguem alinhar propósito e ação, adaptam-se com mais agilidade às mudanças do ambiente externo e engajam suas pessoas em torno de um futuro comum e inspirador.
Ao unir consistência com flexibilidade, razão com sentido, essas organizações tomam decisões mais assertivas, atraem e retêm talentos e criam valor de forma sustentável.
Ter uma estratégia viva — e não apenas planejada — é uma das maiores vantagens competitivas do nosso tempo.
Renato Santos
Cofundador da Eight, Facilitador de Diálogos, Especialista em Desenvolvimento de Lideranças C-Level, Estratégia Organizacional e Cultura.
Artigo publicado originalmente no Linkedin