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Humanizando Pessoas e Relações: O Codesenvolvimento transcende o papel do profissional

Atualizado: 3 de abr.



O artigo a seguir foi publicado originalmente na Edição número 98 da Revista Coaching Brasil, em um dossiê sobre Codesenvolvimento. Escrito em parceria pelas Eighters Erica Mizumoto e Karina Colpaert, esse capítulo da revista trata sobre o aspecto humano que surge nas sessões de Codesenvolvimento.


Continue a leitura para saber mais sobre o tema. O dossiê na integra está disponível para assinantes da Revista Coaching Brasil, aqui.


Nos artigos anteriores você já deve ter lido que o Codesenvolvimento (Codev) foi criado pensando-se no mundo das organizações, para ser trabalhado com grupos de pessoas de uma mesma empresa, visando desenvolver o aspecto profissional de cada participante e também estimular a troca colaborativa e o aprendizado contínuo.


Em cada sessão de Codev, o “cliente da vez” traz a sua problemática relacionada ao seu trabalho. Porém conforme a sessão se desenrola, conforme as perguntas vão sendo feitas e o cliente vai respondendo, é muito comum que comece a surgir o aspecto humano da problemática. E ao final da sessão o grande aprendizado do cliente não é um aspecto técnico profissional, mas sim algo relacionado ao aspecto pessoal, que diz respeito ao seu lado humano...


Buscando mais informações sobre esse assunto, encontramos um artigo publicado no “Journal of Teaching in Social Work / Quebec / 2014” onde dois professores universitários do curso de Trabalho Social enfrentavam dificuldades com seus alunos. O problema não era a matéria, o conteúdo, mas sim o aspecto da relação com os alunos. Esses professores sentiam que não haviam sido treinados para lidar com esse tipo de situação, muito menos haviam aprendido isso na faculdade. Foi aí que tiveram a ideia de formar um grupo de Codev como forma de buscarem apoio mútuo e troca de informações.


Na primeira sessão um dos professores relatou seu problema que se resumia a falta de engajamento de seus alunos e em como essa situação o impactava de forma negativa e o levava a ter certos comportamentos. Ao final da sessão, seu grande aprendizado foi perceber que por motivos pessoais ele sentia dificuldades em situações como aquela enfrentada com seus alunos. Ou seja, o problema não estava nos alunos, mas sim nele mesmo.


Na segunda sessão uma professora trouxe uma problemática semelhante: seus alunos se mostravam cada vez mais indiferentes as suas propostas de trabalho. Ao final da sessão ela percebeu que era ela quem tinha dificuldade para trabalhar a motivação de seus alunos e assim iria buscar meios para superar essa dificuldade.


Em ambos os casos relatados a problemática trazida tinha relação com o trabalho das pessoas. E em ambos os casos a essência da problemática era, no fundo, um aspecto pessoal do cliente da vez, ou seja, do ser humano.


E como isso é possível numa sessão de Codev?


É possível desde que alguns ingredientes chave estejam presentes:


  • Grupo de pessoas que tenham um dilema em comum que será o tema chave das sessões de Codev;

  • Abertura para o aprendizado contínuo;

  • Criação de um ambiente seguro e de confiança e vulnerabilidade.


Segundo Brené Brown (“A Coragem de ser Imperfeito”, 2012), vulnerabilidade é definida como aquilo que experimentamos em momentos de incerteza, risco e exposição emocional, o que nos deixa ansiosos e com medo. Normalmente nosso instinto de sobrevivência quer nos manter longe de situações como essa, mas é justamente quando nos permitimos vivenciar nossa vulnerabilidade num espaço de confiança e segurança que a conexão entre as pessoas acontece.


O ser humano se identifica com a humanidade do outro e a partir desse momento a relação passa a ser de ser humano para ser humano, independentemente do cargo ou posição que a pessoa ocupa. É nesse momento da sessão de Codev que o dilema se torna humano e transcende os papéis sociais que as pessoas desempenham (líder, gestor, professor etc.) e passa a ser um dilema de ser humano.


E quando vemos um ser humano que precisa de ajuda, ainda mais um ser humano com cuja dor nos identificamos, nosso impulso para ajudar aparece de forma verdadeira. E, conforme as sessões vão acontecendo, o grupo vai criando cumplicidade através da vivência colaborativa da troca genuína que é alimentada por aprendizado individual e coletivo e assim, ao desenvolver os aspectos humanos, cada indivíduo se torna mais capacitado para desempenhar seus mais diversos papéis.


Foi pensando nesses ingredientes que 7 mulheres com diferentes idades, diferentes atividades profissionais e diferentes estados civis se reuniram em 2019 e formaram um grupo de Codev para explorar os “dilemas de mães”. Essas mulheres vivenciaram sua vulnerabilidade, foram escutadas e acolhidas, e, conforme se conectavam por seus dilemas não apenas de mães, mas sim da mulher ser humano, também experimentavam a potência da inteligência coletiva sendo criada.


Os ingredientes-chave estavam lá: um tema central de interesse comum, uma dor central que conectava as participantes e as impulsionava a agir na busca de novas perspectivas por meio de trocas com outras pessoas. Uma das participantes desse grupo atesta:


“Em um momento da vida em que é tão fundamental criar conexões, o CODEV foi um presente! O método de respeito, cuidado e partilha fez com que, no segundo encontro, nos sentíssemos amigas de uma vida toda. O olhar atento e empático de outras mulheres amplia pontos de vista sobre questões, trazendo insights preciosos. O grupo é solo fértil e firme, onde podemos deixar crescer nossas raízes.”

Assim, independente do cargo ou da atividade profissional, ao reconhecer a humanidade das pessoas é que o Codesenvolvimento ultrapassa os muros das Organizações e cria pontes de conexões entre pessoas. Não é preciso estar numa Organização para entender de dilemas. Os dilemas estão presentes na nossa vida, são humanos.


Segundo o Sócio-Diretor de uma grande empresa de comunicação:


“Foi ótimo poder contar com um ambiente livre de amarras, com a confidencialidade, confiança e respeito necessários para uma conversa realmente franca, aberta e transparente. É muito difícil ter uma troca nesse nível e com esse grau de liberdade - talvez tenha sido a primeira vez na vida”.

Ao participar de um grupo aberto de Codev, CEOs, diretores, gerentes deixam voluntariamente seus crachás guardados e dão voz ao humano em sua integralidade, aprendem e ensinam coletivamente e atendem ao mais básico impulso humano: o de dar ajuda. Somos seres coletivos. O Presidente de uma empresa do setor agrícola reconhece:


"O Codev me ajudou em reflexões e decisões para se tomar no dia a dia. Compartilhar os nossos dilemas com colegas me alivia. E nos sentimos melhor também podendo ajudar o outro”.

Outra característica do Codev que possibilita sua aplicação fora do ambiente organizacional é exatamente a criação de um espaço seguro onde a aprendizagem pode ser levada para seu dia a dia, ao discutir dilemas de sua área de atuação num grupo aberto, uma participante deu o seguinte relato:


“Eu já sai, no primeiro encontro, admirando as pessoas. E eu pensei: ‘Uau!!! Quem são essas pessoas que já estão compartilhando tantos aprendizados?’ E a cada sessão eu aprendi a ampliar perspectivas. E cada vez que uma pessoa trazia um ponto eu sentia uma explosão! É importante você ter perspectivas diferentes, se afastar do problema e enxergar de outra forma. A cada sessão que eu participava, eu sabia que seria um momento para mim, mas também de muita troca e aprendizado coletivo. Achei tão incrível as trocas que levei essa prática no meu dia a dia”.


É claro que não podemos deixar de reconhecer que um dos papéis mais relevantes em nossas vidas é o nosso papel profissional e sempre buscamos aperfeiçoar nossas competências frente às novas demandas. De acordo com artigo “Inteligência Coletiva ganha importância na lógica do trabalho” (Valor Econômico 17/05/21), uma das competências esperadas do gestor nos tempos atuais é a capacidade de criar novos vínculos para fortalecer a cultura organizacional.


“O líder vai precisar ter humildade e assumir a sua vulnerabilidade para ajudar as pessoas a construírem soluções em conjunto.” Esse líder deverá atuar como conector e essa habilidade não está restrita apenas ao alto escalão. O artigo também cita o aprendizado contínuo para qualquer pessoa independentemente do ponto em que se encontra na carreira.


Segundo pesquisa realizada pela EY 83% dos empregadores entrevistados acreditam que o aprendizado contínuo terá grande impacto na agenda de negócios enquanto 72% dos empregados esperam receber treinamentos. É consenso entre os especialistas que essa disposição para o aprendizado é algo que precisa ser preservado dentro e fora das organizações.


O Codev em grupos abertos traz o exercício voluntário da criação de vínculos com o objetivo de colaborar na descoberta e construção de soluções. Importante ressaltar esse aspecto voluntário como um pressuposto básico para o sucesso de um grupo de Codev. Ao se voluntariar para participar de um grupo a pessoa está fazendo uma escolha de livre espontânea vontade e a vontade é essa força interior que nos impulsiona a fazer algo. No caso do Codev, o impulso de colaborar com o outro ser humano quando este se vulnerabiliza e nos sentimos conectados em nossa humanidade.


O Codev em grupos abertos é certamente um jeito novo de se desenvolver competências, onde as pessoas assumem a responsabilidade por seu próprio desenvolvimento, também fora das organizações. Por meio de uma rede de colaboração, troca e aprendizado coletivo, formada por pessoas sem seus crachás, há uma descoberta sobre uma nova maneira de se relacionar; muito mais humana e autêntica. E assim, como as autoras desse artigo, elas também passam a acreditar que “sozinhos vamos mais rápido e juntos vamos mais longe.”


Erica Mizumoto e Karina Colpaert são coaches PCC e facilitadoras de Codev. Trabalham em rede colaborativa e acreditam que “sozinhos vamos mais rápido e juntos vamos mais longe.”





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