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Transição de carreira: falando de dinheiro


Acho que deixei pra falar de dinheiro mais pra frente talvez porque para mim é um assunto mais sensível. É muito comum quando falo de transição de carreira com alguém, aparecerem frases como “não tenho dinheiro suficiente para parar” ou “assim que eu juntar dinheiro suficiente eu vou mudar o que faço”. E eu as ouço como muito bons argumentos... mal sabem eles que esses são os argumentos que eu, durante muito tempo, usei comigo mesma.

Todos sabemos que é através do dinheiro que garantimos o “ter”, especialmente neste mundo que vivemos hoje. Mas, uma outra coisa que aprendi nesse percurso é que o tema “dinheiro” é também um bom instrumento para irmos empurrando com a barriga a nossa decisão de mudar, de sair da nossa zona de conforto.

Me considero uma pessoa que coloca em prática muito rápido as suas ideias, daquele tipo que sai fazendo mesmo. Tenho pra mim que se não fosse essa minha questão em torno do dinheiro, minha transição seria muito mais rápida do que realmente foi. Eu tinha muito desejo de mudar, mas também tinha aquele meu outro lado que ficava literalmente buzinando na minha cabeça: você não tem o suficiente!

Mas então, o que aconteceu comigo? Como me desembaracei desse medo? Não, eu não ganhei na loteria... nem na mega sena!

Acredito que meu primeiro passo para essa libertação foi quase que inconsciente. O desejo de mudar de vida já estava dentro de mim, eu estava dirigindo, a caminho do trabalho e tocou uma música do Frejat no rádio, Amor pra recomeçar, música que eu já tinha ouvido milhares de vezes, mas que, naquele dia, foi como se eu tivesse recebido um soco no estômago: “... eu desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também, e que você diga a ele, pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem...” e aquela pergunta ficou ali, ressoando dentro de mim. Quem é mesmo o dono de quem? Estive toda minha vida tão preocupada em construir o que eu achava necessário para viver que nunca parei para refletir qual era o limite que eu dava para aquela necessidade, do que realmente eu precisava e do que simplesmente eu não precisava, mas não queria abrir mão...

O segundo passo veio então com a coragem para ir fundo na reflexão. Onde eu me encontrava? Eu estava a serviço do dinheiro ou a serviço dos meus desejos e sonhos? Tive que acolher meus medos. Apareceram alguns fantasmas que eu tive que olhar de frente: lembrar que fantasmas não existem, o que existe é a nossa crença neles. Foi um momento onde os meus sentimentos se confundiam com a razão e passei a me observar muito para integrar toda essa reflexão.

Resolvi então compartilhar com quem amava as minhas preocupações, meu desejo de mudar e minha necessidade de apoio nesse movimento. Expor tudo isso de forma franca, verbalizar para além do meu interior os meus desejos com quem amava, foi como se eu abrisse a porta para o caminho desejado. Num primeiro momento houve uma certa preocupação de como seria essa nova vida, as incertezas de um começo novo, mas rapidamente, com transparência e clareza nas conversas, essa preocupação se transformou em muita confiança, muito reconhecimento e muita união. Entre essa primeira conversa familiar e o dia em que realmente saí do mundo corporativo foram quase dois anos. Uma transição não acontece do dia pra noite.

Nesse tempo, mesmo certa do que eu desejava, ainda passava muito tempo na frente das planilhas fazendo contas e mais contas, tentando determinar quanto dinheiro eu precisava ter para poder ir trabalhar no que eu sonhava. Nesses meus exercícios eu tinha duas premissas: precisava ter economizado o suficiente para me manter até os 85 anos e eu não iria ganhar nenhum dinheiro na minha nova atividade.

Até que um dia eu contei para o meu coach sobre a existência dessa planilha, sobre as minhas premissas e do quanto me sentia longe de realizar a mudança. Ele me observava silenciosamente, quando deliberadamente me provocou: “que mulher poderosa você é, não acha?” Eu não entendi a provocação e perguntei porque ele dizia aquilo. Depois de algum tempo num silêncio constrangedor, ele me disse: “vejo uma mulher que tem o poder de prever a idade com que vai morrer”. Fiquei sem palavras. Sim, eu determinava numa célula da minha planilha excel até quando eu ia viver! Quanta arrogância! Precisei de muitos dias para me recuperar, mas algo mudou profundamente em mim.

Fiquei algum tempo sem olhar para aquela planilha e, quando o fiz, olhei com compaixão para mim mesma. Estava livre para viver. A planilha ainda existe. As duas premissas não.

 

Se você está pensando em mudar de carreira e está esperando ter o suficiente, valem umas reflexões:

  • Quais são os limites que você dá para o seu dinheiro? (eu questionei honestamente do que eu não abriria mão).

  • O que te faz feliz? (eu notei que muito do que me faz feliz não depende do dinheiro).

  • Quais são seus fantasmas? (eu acreditava que não iria ser capaz de ganhar dinheiro fazendo algo que eu amava).

  • Com quem você pode compartilhar seus temores financeiros? (eu compartilhei com meus filhos os meus temores e meu desejo de mudança).

  • Quem é mesmo o dono de quem?

 

Christine Bona

Coach e Membro da Eight | Agente de Transformação Cultural. Buscando sempre o novo para apoiar pessoas na descoberta e construção do caminho em direção ao seu propósito. Finalizou sua transição de carreira em julho de 2018 e segue feliz seu novo caminho.

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