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Pausa para reolhar


(reprodução da obra "Garota em frente ao espelho", de Pablo Picasso)
Reprodução da obra "Garota em frente ao espelho", de Pablo Picasso

Um dos aspectos que tenho estudado ultimamente e que tem me despertado a curiosidade é o chamado “Viés Inconsciente”, muito conhecido também por seu nome em inglês, “Unconscious Bias”.

Por conta de um trabalho de facilitação para uma consultoria americana, precisei entender melhor esse conceito e a partir disso perceber como é sua atuação no meu dia a dia.


O que são vieses inconscientes?


O viés nada mais é do que todos os rótulos e caixinhas que nosso cérebro vai acumulando ao longo da vida, desde a infância, o que faz com nossas ações sejam tão automáticas e naturais que não percebemos se estamos julgando ou excluindo alguém, por isso o nome inconsciente.

O viés tem muito a ver com nossa história, com o lugar que crescemos, com a cultura que vivenciamos. O viés ajuda nosso cérebro a criar significado a partir do que observamos.


São associações mentais sem consciência ou intenção, mas que muitas vezes entram em conflito com nossa consciência, atitudes e comportamentos desejados.

Podemos criar vieses relacionados à altura, cor da pele, sotaque, nome, idade, religião, peso. Por tudo isso ele é um tópico basilar quando estamos tratando de diversidade e inclusão.


Por exemplo, você já conheceu alguém em uma festa e no mesmo momento se conectou com ela, sentiu-se seguro, protegido, sem qualquer explicação?


Já parou para pensar que talvez algo nela a lembrasse sua professora favorita da segunda série? Nosso cérebro faz essas associações em nano segundos e inconscientemente.

Agora, imaginemos outro contexto. Você está entrevistando alguém para uma vaga de emprego que está ofertando e de repente, você tem essa mesma sensação.


Como ter consciência disso e não deixar que nossos vieses dominem nossas decisões? Como ter certeza que estamos considerando todos os fatores, objetivos e subjetivos?

E o contrário também acontece. Tem alguém no trabalho que desde o primeiro dia em que foram apresentados você não consegue confiar. Teria sido o aperto de mão muito suave dado por ele nesse primeiro encontro?


Você cresceu ouvindo seu pai e seu avô reforçarem o quanto uma pessoa confiável tem um aperto de mão forte. No entanto, em algumas culturas isso é uma ofensa.


Talvez seu colega só agiu de acordo com o que aprendeu em sua própria família, mas seu cérebro associou essa ação como um termômetro de confiabilidade.


O que de fato está desconectando você e seu colega?

O grande segredo para lidar com o viés, dizem os especialistas, é primeiro assumir que todos temos. Se somos humanos, temos vieses inconscientes.


Segundo, aprender a gerenciá-lo, confrontar nossas decisões para verificar se realmente estamos atuando de acordo com o que temos estabelecido como nossos valores e propósito ou se estamos como escravos, deixando o nosso cérebro controlar as situações de forma inconsciente.


Como disse Rollo May: “Liberdade é a pausa entre estímulo e a resposta”

É preciso sair do automático e fazer algumas pausas.


Essa pausa, esse momento de parar para entender melhor o que está acontecendo e o que realmente quero com essa ou aquela decisão, me lembrou o que aprendi em um workshop de Comunicação Não Violenta com Dominic Barter há alguns anos.


Ele falava sobre respeito. Na sua origem em latim, a palavra respeito significa “olhar outra vez” ou ainda reolhar. É a habilidade de olhar outra vez, com consciência.

Você já tentou parar por um momento e olhar de novo? Aprender mais sobre meus próprios vieses, tem sido um caminho de autoconhecimento que contribuí para fortalecer minha conexão comigo e com os outros. E as pausas tem sido essenciais. Um momento importante também de autocuidado.

Durante essas pausas acredito que podemos fazer boas e poderosas perguntas que nos farão sair do automático e viver em verdadeira liberdade.

Debora Gaudencio

Co-Fundadora da Eight Diálogos Transformadores. Desde 2012 estuda a CNV - Comunicação Não Violenta e facilita encontros com esse tema dentro das Organizações.

Texto originalmente publicado na Revista Coaching Brasil Ed. 72

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