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Pausa para re-olhar

Atualizado: 8 de abr.


(reprodução da obra "Garota em frente ao espelho", de Pablo Picasso)

Um dos aspectos que tenho estudado ultimamente e que tem me despertado a curiosidade é o chamado “Viés Inconsciente”, muito conhecido também por seu nome em inglês, “Unconscious Bias”.

Por conta de um trabalho de facilitação para uma consultoria americana, precisei entender melhor esse conceito e a partir disso perceber como é sua atuação no meu dia a dia. O viés nada mais é do que todos os rótulos e caixinhas que nosso cérebro vai acumulando ao longo da vida, desde a infância, o que faz com nossas ações sejam tão automáticas e naturais que não percebemos se estamos julgando ou excluindo alguém, por isso o nome inconsciente. O viés tem muito a ver com nossa história, com o lugar que crescemos, com a cultura que vivenciamos. O viés ajuda nosso cérebro a criar significado a partir do que observamos. São associações mentais sem consciência ou intenção, mas que muitas vezes entram em conflito com nossa consciência, atitudes e comportamentos desejados.

Podemos criar vieses relacionados à altura, cor da pele, sotaque, nome, idade, religião, peso. Por tudo isso ele é um tópico basilar quando estamos tratando de diversidade e inclusão. Por exemplo, você já conheceu alguém em uma festa e no mesmo momento se conectou com ela, sentiu-se seguro, protegido, sem qualquer explicação? Já parou para pensar que talvez algo nela a lembrasse sua professora favorita da segunda série? Nosso cérebro faz essas associações em nano segundos e inconscientemente.

Agora, imaginemos outro contexto. Você está entrevistando alguém para uma vaga de emprego que está ofertando e de repente, você tem essa mesma sensação. Como ter consciência disso e não deixar que nossos vieses dominem nossas decisões? Como ter certeza que estamos considerando todos os fatores, objetivos e subjetivos?

E o contrário também acontece. Tem alguém no trabalho que desde o primeiro dia em que foram apresentados você não consegue confiar. Teria sido o aperto de mão muito suave dado por ele nesse primeiro encontro? Você cresceu ouvindo seu pai e seu avô reforçarem o quanto uma pessoa confiável tem um aperto de mão forte. No entanto, em algumas culturas isso é uma ofensa. Talvez seu colega só agiu de acordo com o que aprendeu em sua própria família, mas seu cérebro associou essa ação como um termômetro de confiabilidade. O que de fato está desconectando você e seu colega?

O grande segredo para lidar com o viés, dizem os especialistas, é primeiro assumir que todos temos. Se somos humanos, temos vieses inconscientes. Segundo, aprender a gerenciá-lo, confrontar nossas decisões para verificar se realmente estamos atuando de acordo com o que temos estabelecido como nossos valores e propósito ou se estamos como escravos, deixando o nosso cérebro controlar as situações de forma inconsciente.

Como disse Rollo May: “Liberdade é a pausa entre estímulo e a resposta”

É preciso sair do automático e fazer algumas pausas. Essa pausa, esse momento de parar para entender melhor o que está acontecendo e o que realmente quero com essa ou aquela decisão, me lembrou o que aprendi em um workshop de Comunicação Não Violenta com Dominic Barter há alguns anos. Ele falava sobre respeito. Na sua origem em latim, a palavra respeito significa “olhar outra vez” ou ainda re-olhar. É a habilidade de olhar outra vez, com consciência.

Você já tentou parar por um momento e olhar de novo? Aprender mais sobre meus próprios vieses, tem sido um caminho de autoconhecimento que contribuí para fortalecer minha conexão comigo e com os outros. E as pausas tem sido essenciais. Um momento importante também de autocuidado.

Durante essas pausas acredito que podemos fazer boas e poderosas perguntas que nos farão sair do automático e viver em verdadeira liberdade.

Debora Gaudencio é Co-Fundadora da Eight. Desde 2012 estuda a CNV - Comunicação Não Violenta e facilita encontros com esse tema dentro das Organizações.

Texto originalmente publicado na Revista Coaching Brasil Ed. 72

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