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  • Foto do escritorDebora Gaudencio

A beleza dos julgamentos

Atualizado: 8 de abr.


Buscando empatia em meus diálogos internos e externos, tenho lidado bastante nos últimos tempos com os julgamentos. E eles tem me ensinado tanto! À primeira vista o julgamento parece algo feio, algo que preciso evitar, principalmente se já estou em um processo de autodesenvolvimento. Faz todo o sentido. No entanto, o que tenho descoberto é que os julgamentos que fazemos, sobre nós e sobre os outros podem se tornar grandes parceiros na aventura do autoconhecimento. O julgamento é uma violência, isso é certo, são bloqueios que junto com os rótulos, papéis, interpretações nos impedem de criar verdadeiras conexões uns com os outros. Na Comunicação não Violenta costumamos usar símbolos e por uma razão pedagógica, chamamos uma linguagem estática que contém julgamentos e acusações de linguagem Chacal, em oposição a uma linguagem consciente e com movimento, que busca conexão, a qual chamamos carinhosamente de linguagem Girafa. A Girafa é o animal que tem, proporcionalmente, o maior coração do mundo, por isso está ligada a uma característica de não violência, além disso tem um longo pescoço que a permite ter uma visão ampla do que está acontecendo. Mas, voltemos ao Chacal, nosso símbolo da linguagem automática, que representa os padrões habituais de ataque, defesa e culpa.

Observando com cuidado esse Chacal interno, armado com um arsenal completo de julgamentos, percebi o quanto ele mora perto do nosso coração. O quanto ele está conosco desde a infância, foi nutrido, confortado, aconchegado e nos conhece muito bem. Sabe exatamente quais são nossas principais necessidades. Mora há tanto tempo em nós que sabe traduzir cada um de nossos mais profundos sentimentos em julgamentos e violência. Como se quisesse nos defender. Um animal selvagem defendendo seu território, usando para isso uma metralhadora de julgamentos. E acredito, pela observação e prática, que não devemos ignorá-lo. O que tenho aprendido é prestar cada vez mais atenção aos meus julgamentos. Ter consciência sobre cada um deles. Aceitar que os tenho e a partir dai gerenciá-los. Lidar com eles para que eles não estejam no comando do meu ouvir, do meu falar e das minhas ações. Para esse processo acontecer é necessário vulnerabilidade e coragem. Ficar cara a cara com o Chacal não é fácil. Ele conhece nosso lado sombra e a ideia é traze-lo para a luz por meio de um movimento interno, quase uma dança. O Chacal quer ser ouvido. Acolhido. Abro espaço para isso e escuto todos os meus julgamentos. As vezes os escrevo em um caderno. Uma página, duas páginas, o que for necessário para dar voz ao que esta vivo em mim e está sendo sinalizado por meio desses julgamentos. Depois, o próximo passo da dança é reler esses julgamentos e me conectar com cada um deles, faço a pergunta: O que esse Chacal, que tanto me conhece, quer me dizer? E se ele tivesse um outro vocabulário, o que falaria? E então a mágica acontece! Descubro coisas lindas ao meu respeito. Porque começo a empatizar com a mensagem que está por trás de todos esses julgamentos trazidos pelo Chacal. E geralmente essa mensagem que estava escondida está alinhada com valores muito importantes para mim.

 

“O comportamento do Chacal nos avisa que precisamos buscar os sentimentos, necessidades e valores escondidos em cada um dos julgamentos. Como um sinal intermitente no painel de controle do carro que nos avisa que é necessário parar para verificar que há algo acontecendo embaixo do capô” Christine King

 

Usando essa dança recentemente, descobrimos, eu e um coachee, que um julgamento feito por ele sobre uma atitude do líder de sua equipe, na verdade, quando acolhido, revelou o quanto ele queria conexão, apoio e parceria. Essa é a beleza escondida por trás dos julgamentos.

* Esse artigo foi publicado na REVISTA COACHING BRASIL - Edição 70 março 2019.

Referências: ROSENBERG, Marshall - Comunicação Não-Violenta. Editora Agora, 2003. KING, Christine – Comunicación Viva: Galloping Giraffe Enterprise.

Debora Gaudêncio: Coach e Co-fundadora da Eight e Facilitadora em Comunicação Não Violenta Apoia indivíduos a terem relações que os conectem genuinamente uns com os outros.

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