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  • Foto do escritorRoberto Rotenberg

Whatsapp.... ajuda ou complica?!?

Atualizado: 3 de abr.


Foto de Anton

“Toda a dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história.”

Hannah Arendt

Não quero aqui escrever mais um texto sobre o Coronavírus. Mas quero falar de uma impressão que tenho a respeito do quanto nós realmente estamos ajudando a melhorar o estado das coisas.

Meus parceiros da Eight∞ e eu estamos promovendo encontros virtuais de grupos de Action Learning com resultados surpreendentes. Mas um ponto vem me chamando à atenção. Simplesmente 100% dos participantes (o percentual não é exagero, até porque também me inclui) reconheceu os grupos de WhatsApp (e até as conexões individuais) como fontes de aumento de stress, ansiedade e mal-estar.

Há vários aspectos a considerar. Mídias como o Facebook, Instagram, LinkedIn, Tweeter, são eletivas. Nós optamos por entrar e ler o que queremos. Mas o WhatsApp está em nosso número de celular, e hoje o aparelho é uma espécie de cofre da nossa intimidade. Em nossos dias o cofre deixou de ter segredo, e, portanto, estamos abertos a tudo. Mas continua sendo muito particular. Quando recebemos mensagem pelo WhatsApp é como se alguém para quem fizemos a concessão de dar uma chave, viesse sem avisar e abrisse a porta de nossa casa sem tocar a campainha. Quando nos damos conta, a pessoa já está dentro. Mesmo silenciando, a mensagem já entrou.

A situação do Coronavírus é inusitada, aflitiva e assustadoramente democrática. Pega a todos. Somos diferentes e cada um tem a sua forma de lidar. Ansiedade ao extremo, fechamento em si, agressividade, tristeza, e por aí vai. Nesta hora, os grandes benfeitores da sociedade são os profissionais da saúde, doadores de sangue, prestadores de serviços essenciais. Para a divulgação de informações sobre a pandemia, estão aí os profissionais que têm essa missão de vida, que são os jornalistas, e deveriam estar também incluídos os políticos (não me refiro a partidos e correntes). Todos os demais podemos e devemos fazer o que for possível de acordo com as limitações de cada um.

Quando encaminhamos qualquer mensagem pelo WhatsApp, seja positiva, negativa, alarmista, humorística, sempre pensamos que o fazemos pelo bem da sociedade. Mas precisamos todos nós, contemporâneos, lembrar que estamos vivendo algo que nunca pensamos ser possível experimentar. O simples encaminhamento de uma mensagem costuma ter mais a ver com a questão de quem envia do que com o bem de quem recebe.

Vou dar um exemplo pessoal. Fiquei emocionado quando recebi vídeos com as cantorias nas sacadas da Itália, ou de vizinhos se exercitando através das janelas seguindo um instrutor visível em um terraço. Mas na sequência passei a receber exatamente os mesmos vídeos de pelo menos mais dez ou doze grupos e amigos. Comecei a ser tomado por uma ansiedade incontrolável que só consegui vencer após desligar todos os aparelhos e fazer um exercício de respiração dentro do meu confinamento.

Outra coisa que foi falada nos grupos diz respeito à frustração de não saberem como agir ao ver tanta coisa acontecendo. No final, todos nos sentimos mais aliviados ao perceber que muitos tinham esta mesma insegurança. Faz-se urgente primeiro encontrar o equilíbrio em sua própria situação com filhos pequenos, famílias inteiras confinadas, idosos desamparados, ou até mesmo em sua própria solidão.

A solução mais frequente em relação ao WhatsApp tem sido “estou saindo do grupo para manter minha sanidade mental”. Não tenho nenhum argumento contra esta decisão. Só fico pensando o porquê de chegarmos ao ponto de cortar conexões justamente em um momento em que mais precisamos de conexão.

Já ouvi até alguém escrever “sempre que tiver algo importante vou repassar”. A intenção é muito boa, mas eu, pelo menos, não pedi isto para ninguém. E sejamos claros: excetuando os profissionais da comunicação, todos temos acesso às mesmas fontes o tempo inteiro e quando queremos. E já temos o Face e o Insta para escolhermos os vídeos e lermos os textos filosóficos ou técnicos que nos interessam. Mas é difícil suportar a avalanche sobre o Coronavírus no WhatsApp sem surtar. Por outro lado, percebo que quando alguém escreve sobre suas próprias dificuldades, descobertas, questões, o impacto nos grupos é de empatia, identificação, pertencimento e consequentemente de aproximação. Esta, ao meu ver, seria a função mais sagrada do WhatsApp nestes dias.

Tenho proposto isto aos grupos dos quais faço parte: suspender o encaminhamento de vídeos e mensagens, e passar somente a escrever nossas próprias impressões ou questões. Não tenho tido muito sucesso, pois muitos nem leem o que digo, simplesmente repassam tudo o que acham importante sem ao menos perguntar como estou, quais as minhas angústias, que soluções encontrei, aprendizados meus. Mas não quero sair de grupo algum, não gostaria de me isolar ainda mais. Mesmo que esta minha empreitada não dê muito certo nos que já existem, talvez seja um impulso para a criação de novos grupos com esta mesma visão.

Em nossa rede da Eight∞ temos feito isto, o que tem nos ajudado a sair (virtualmente) por aí, para escutar, trocar, dar as mãos e abraçar através da internet. O bom de pensarmos no outro, é saber que alguém se preocupa conosco também. Isso, sim, me conforta.

Saúde para todos nós!

Roberto Rotenberg é Coach, Mediador Organizacional e Facilitador de Diálogos Transformadores. Apaixonado pela diversidade humana, põe intensidade em tudo o que possa provocar a inclusão de todos em busca de um mundo inovador e muito melhor.

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