Estamos no mês da campanha Janeiro Branco e todo ano é lançado um tema como pano de fundo. Em 2022 o tema é “Por uma Cultura da Saúde Mental”.
A palavra cultura aparece no sentido de olharmos para a Saúde Mental como uma temática integrada à cultura organizacional e não apenas como uma iniciativa a ser trabalhada esporadicamente.
Se vemos a cultura como o conjunto de práticas que emerge a partir do discurso organizacional, o primeiro passo para entender se há ou não uma cultura de Saúde Mental no seu ambiente de trabalho, é olhar o quanto a ação e a fala estão próximas ou dissonantes.
Depois de 2 anos de pandemia esse tema ficou em evidência, muitas informações ficaram acessíveis e ações foram implementadas
Uma pergunta simples para entender a aderência da organização às práticas de Saúde Mental é se perguntar: “O que de fato mudou, de maneira positiva, no meu trabalho nos últimos 2 anos?”
O entendimento de Cultura de Saúde Mental está intrinsicamente ligado a uma menor tolerância a ambientes tóxicos, relações de trabalho e de gestão que adoecem times.
O filósofo e escritor indiano Jiddu Krishnamurti tem uma frase que resume bem o que vivemos:
“Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente.”
Podemos olhar essa frase com o viés organizacional, em que não é sinal de saúde e bom desempenho estar adaptado a uma organização doente.
E o que seria uma organização doente neste contexto? Seria tudo aquilo que coloca o colaborador em um risco psicossocial, causa estresse e em última instância o temido burnout, que em 2022 passou a ser considerado uma doença ocupacional.
A Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho elenca pontos importantes sobre o que desencadeia o estresse nas empresas:
cargas de trabalho excessivas;
exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções;
falta de participação na tomada de decisões que afetam o colaborador e falta de controle sobre a forma como executa o trabalho (autonomia);
má gestão de mudanças organizacionais;
insegurança laboral;
comunicação ineficaz e falta de apoio da parte de chefias e colegas;
assédio psicológico ou sexual e violência de terceiros.
A reflexão que fica é se depois de tantas intervenções em Saúde Mental e acesso a tantas informações sobre o tema, se algum dos riscos psicossociais foram revisitados pela empresa.
Uma Cultura pela Saúde Mental só acontece no âmbito do coletivo, na junção de esforços entre o indivíduo, organização e sociedade.
Líderes podem começar a cultura do cuidado com a Saúde Mental lançando mão de um conceito simples de suporte psicológico, os 3 L’s: Look, Listen e Link.
Look (olhe) para sua equipe, gere proximidade, entenda as dores e os problemas que estão vivenciando.
Listen (escute) de forma ativa e com intenção de construir pontes e juntos buscarem soluções para as questões que estão sendo vivenciadas.
Link (conecte) crie vínculos nas relações organizacionais como uma forma de proteção para a Saúde Mental. Quanto mais você amplia a sua rede de apoio, mais conectado(a), e mais seguro(a) você pode se sentir.
Então mais do que pensar na Saúde Mental como uma campanha, comece agora com as práticas, discussões e provocações que vão levar você e sua organização para um lugar de mais satisfação e bem estar. É no esforço coletivo que vemos a mudança.
Michele Crevelaro é cofundadora, Coach e Facilitadora na Eight. Também atua como psicóloga clínica e orientadora vocacional. Acredita que estamos neste mundo para evoluirmos e que isso só é possível por meio das relações humanas.
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