Como a sensibilidade contribui para a saúde social do seu time?
- Karina Colpaert
- 31 de mar.
- 5 min de leitura
Quando fui convidada a escrever sobre este tema para a newsletter da Eight, confesso que entrei no buraco da procrastinação. Esta tarefa se fixou por dias na minha lista de entregas.
Comecei a ler alguns relatórios e estudos mais recentes da McKinsey e artigos de Havard de diversidade e inclusão que abordam a temática de gêneros e cheguei a recorrer ao ChatGPT para aquecer as ideias na tentativa de me inspirar.
A estratégia era usar a IA para organizar em forma de texto os principais achados nos relatórios, mas o texto veio frio, sem alma. Essa conversa com a IA me deixou ainda mais ansiosa, percebi que estava seguindo um caminho improdutivo. Afinal, onde estava a sensibilidade?

Pausa
Voltei ao início. Fui resgatar a mensagem de WhatsApp e o pedido era: “E a Ka (Karina) poderia escrever sobre a importância da sensibilidade na liderança, algo nesse lugar…” Uau! Ao reler o convite fui para o “algo neste lugar”, fui para o meu lugar, esse algo que é meu!
Insight
Sensibilidade é uma inteligência humana!!! O insight veio como uma autorreflexão, uma conversa comigo mesma: “Karina, não saia do seu lugar. Este é o seu lugar!”
Durante muitos anos, principalmente quando ocupei cargo de liderança, negava que a sensibilidade era um talento. Quando era reconhecida por ser sensível, eu interpretava que precisava ser mais firme e desenvolver mais a assertividade.
Sensibilidade, para mim, tinha um significado de fragilidade, passividade e incompetência. E ficava mais confusa ainda, pois a sensibilidade era apontada por líderes, pares, clientes internos e equipe como um elogio, um reconhecimento.
Fui entender o que era sensibilidade quando comecei a atuar como coach executiva, afinal, tive muita facilidade em estabelecer conexão e relação de confiança com meus clientes de coaching.
Hoje estou em paz com meu talento e reconheço a importância da sensibilidade nas relações profissionais e pessoais. Mas, veja que curioso, quando fui convidada a escrever sobre a importância da sensibilidade na liderança, cai no buraco da procrastinação. Precisei acessar com atenção e intenção a sensibilidade que habita o meu mundo. Precisei me ouvir!
Para não ter interpretações, como eu mesma fiz no passado, vamos ao significado de sensibilidade:
Substantivo feminino
1. qualidade do que é sensível. "a s. do ser humano"
2. emoção, sentimento, faculdade de sentir compaixão, simpatia pela humanidade; piedade, empatia, ternura.
Para além desta definição, entendo que a sensibilidade está associada a competências pessoais que fundamentam relações sociais funcionais e saudáveis.
Lembrei que me senti aliviada quando conheci a teoria das múltiplas inteligências, de Howard Gardner, psicólogo e professor da Universidade de Harvard.
Ele propôs que a inteligência não é um conceito único e mensurável apenas pelo QI, mas sim um conjunto de habilidades distintas, tendo identificado nove tipos de inteligência:
1. Lógico-matemática – capacidade de raciocínio lógico e resolução de problemas matemáticos.
2. Linguística – habilidade com a linguagem, escrita e oralidade.
3. Espacial – percepção do espaço e habilidades visuais.
4. Musical – sensibilidade para sons, ritmos e melodia.
5. Corporal/cinestésica – coordenação motora e uso do corpo para expressão ou realização de tarefas.
6. Interpessoal – capacidade de compreender e se relacionar bem com outras pessoas.
7. Intrapessoal – conhecimento sobre si mesmo e autorreflexão.
8. Naturalista – habilidade para identificar e classificar elementos da natureza.
9. Existencial – reflexão sobre questões profundas da existência humana.
A teoria de Gardner sugere que cada pessoa tem potencialidades diferentes que podem ser desenvolvidas de maneiras diversas.
Fui educada numa escola tradicional e numa família onde as inteligências valorizadas eram a lógica-matemática e linguística. Conhecer Gardner na graduação de psicologia me possibilitou identificar que as minhas inteligências predominantes eram intrapessoais e interpessoais.
Ou seja, nos meus primeiros anos escolares a sensibilidade não foi reconhecida. Muito pelo contrário, tive boa parte do tempo dedicado a melhorar a inteligência logico-matemática, foram muitos exercícios de KUMON!
Por isso, essa teoria veio como uma grata surpresa! E mesmo consciente das minhas inteligências predominantes, anos depois na carreira corporativa, não tive dificuldade de as colocar em prática, mas tive dificuldade de reconhecer especificamente que a sensibilidade estava relacionada à inteligência interpessoal.
Saúde Social do time x Sensibilidade
Recentemente, no SXSW de 2025, um festival que aborda tecnologia, inovação, cultura e aponta tendências, teve como palestra de abertura a Kasley Killam que expandiu a temática de saúde física e saúde mental para a saúde social.
Sabemos que estamos diante de um grave problema mundial: os afastamentos provocados por ansiedade e depressão geram um prejuízo global de US$ 1 trilhão por ano, segundo a OMS - Organização Mundial da Saúde.
Diante dessa realidade, o governo brasileiro atualizou a norma regulamentadora (NR-1), incluindo diretrizes sobre a saúde mental no ambiente de trabalho. O problema é mundial, grande e complexo, e estamos aqui 'falando' de sensibilidade?
Não dá para resolver o problema do mundo, mas como você, no papel de líder está impactando o seu mundo?
Minha sensibilidade, que as vezes é poética (uma inteligência intrapessoal e existencialista), me mostra que há vários mundos. O mundo no qual habitamos e um mundo que nos habita.
Essa mesma sensibilidade me mostrou que o caminho para adentrar em outros mundos é através da escuta ativa. Uma escuta intencionada, curiosa e respeitosa que busca compreensão e tem interesse genuíno de visitar outros mundos e se surpreender com as paisagens.
Acredito que a sensibilidade na liderança é uma escolha estratégica e intencional de cultivar a saúde emocional e social do seu time. É a combinação entre pessoas e resultados, uma liderança que se destaca por construir equipes engajadas e inovadoras por meio da criação de um ambiente psicologicamente seguro.
Para isso, é essencial dar voz ao time, criando um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para se expressar, ser compreendidas e, assim, fiquem mais abertas a reconhecer erros, aprender, compartilhar ideias e inovar.
Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração da Magazine Luiza, é um símbolo de liderança sensível. Trajano reforça:
“O sucesso de uma empresa está diretamente ligado às pessoas que trabalham nela. Se você não olhar para elas com sensibilidade, não adianta ter a melhor estratégia do mundo.”
Por isso, te convido a pausar e olhar para o seu mundo com sensibilidade. Quem sabe vem um insight?
Reflexões
Quais são as suas inteligências predominantes?
De que forma você pode desenvolver as inteligências intrapessoal e interpessoal?
Como tem sido a qualidade da sua escuta?
Quando você toma uma ação, você considera o impacto nas pessoas ou toma como norte os resultados e metas corporativos?
Como você pode desenvolver, na prática, uma liderança mais sensível sem perder a eficiência?
Referências:
Howard Gardner - Inteligências Múltiplas: A Teoria na Prática
Kasley Killam - The Art and Science of Connection: Why Social Health Is the Missing Key to Living Longer, Healthier, and Happier
Karina Colpaert
Psicóloga e Cofundadora da Eight Diálogos que Transformam
Reconhecida por sua sensibilidade, gosta de escutar as pessoas porque além de fazer conexões autênticas, percebe que a escuta possibilita ampliar e compreender o ser humano em suas múltiplas facetas
Especialista nas temáticas de Saúde Mental, Emocional e Social nas Organizações, Comunicação Consciente e Mediação de Conflito
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