Mindset e Inteligência Artificial: O que o hoje nos reserva
por Magali Lopes também Maga Gomes
“Como seres humanos, no centro da evolução da consciência, somos verdadeiros quando reconhecemos que, a todo momento, estamos no limiar entre um mundo antigo e um novo.”
Alan Kaplan e Sue Davidorff
Era um fim de semana qualquer, família reunida na casa de veraneio, dias chuvosos impediam de usufruir a praia com mais intensidade. Mesmo assim, com o desejo de criar memórias afetivas familiares, alugamos várias bicicletas e fomos para praia mais deserta que circunda o bairro litorâneo.
Conosco estavam as duas pequenas do grupo, ambas com oito anos de idade. Valen, que já tinha iniciado seus experimentos com a avó na semana anterior e já sabia pedalar sozinha, e a Gabi que como uma boa garota da cidade grande, a bicicleta ainda era um brinquedo pouco explorado.
Ainda no estacionamento onde alugamos as bicicletas, Gabi fazia seus primeiros “rolês” com a ajuda do elétrico rapaz do aluguel. Estava excitada e muito desatenta, era difícil se equilibrar, ora conseguia ora quase caia. A Valen escolheu criteriosamente sua nova magrela na cor lilás e iniciamos a aventura empurrando as bikes pela rua de terra até a entrada da praia.
Não sei se posso dizer aventura ou desventura, pois nos primeiros metros ao chegar à praia foi preciso fazer ajustes. A desatenção da Gabi deixou a investida um pouco perigosa, encostamos a bicicleta em uma árvore e acomodamos a Gabi no cesto da garupa de sua irmã mais velha. Já a Valen decidiu continuar sozinha, ela estava conseguindo avançar nas pedaladas sem cair ou se desequilibrar.
Alguns metros a mais e a areia começou a ficar fofa com o avançar da maré, algumas instruções para avançar no terreno mais seco onde a terra era mais batida foram dadas, mas era evidente o desafio de equilíbrio que se acumulou ao cansaço e o passeio passou a ser um pesadelo.
O primeiro tombo foi suficiente para que a Valen fosse ao desespero “eu não consigo”, “eu não quero mais”, “está muito difícil”, “quero voltar...” Largou a bicicleta e saiu chorando em direção aos pais, que já estavam impacientes com a choradeira.
A cena descrita da Valen e da Gabi, poderia ser facilmente substituída pelos desafios que a sociedade, de maneira em geral, está enfrentando nessa que chamamos de transição do mundo, quando nos depararmos com as grandes tendências da sociedade.
Em uma palestra no grande evento SXSW deste ano, em Austin no Texas, Amy Webb, fundadora e CEO do Future Today Institute, afirma que Inteligência Artificial Generativa, Computing, Web 3, Metaverso e Novas Realidades, Energia e Clima, Mobilidade, Robôs e drones, Saúde e Medicina são as grandes tendências que estamos vivendo no nosso século. Não há dúvidas que todas essas tendências mudarão o mundo que conhecemos.
Meu sócio, Renato Santos, falou mais sobre as tendências apresentadas por Amy Webb no SXSW 2024 no vídeo abaixo.
O professor e palestrante Renato Grau em seu artigo - Para onde está indo a IA, descreve pelo menos seis tipos de Inteligência Artificial:
Inteligência artificial geral;
Visão computacional;
Sistemas especialistas;
Modelos de IA generativa;
Algoritmos de aprendizado de máquina;
Processamento de linguagem natural.
São tantas! Algumas delas eu mesma não entendo e nem sei ao certo o que significam e qual impacto trarão na minha vida. Algumas me provocam curiosidade, outras insegurança. Às vezes quero seguir pedalando na areia pesada, outras vezes dá vontade de largar a bicicleta no meio do caminho.
Porém, isso me faz ter a certeza da importância de nos abrirmos para este tema, pois agora é a hora que nós, seres humanos, estamos fazendo nossas escolhas de como vamos nos relacionar com tudo que já está presente no mundo e o que está se transformando rapidamente.
A própria Amy Webb cunhou o termo “Gen T” (Geração da Transição) para se referir a todas as gerações, dos Baby Boomers à geração Z, que estão vivendo este momento de transformação e que decidirão juntas como o mundo será nos próximos anos.
Me lembrei então da teoria da renomada pesquisadora de Standford, Carol Dweck, que desenvolveu em seu livro chamado Mindset – Uma nova psicologia de sucesso.
Ela explica sobre dois tipos de modelos mentais, um chamado de fixo e um de crescimento e afirma que basicamente as crenças que temos a nosso próprio respeito orienta grande parte das nossas vidas. Podemos ter ou não consciência delas, mas elas têm forte influência sobre aquilo que desejamos e sobre nossas chances de consegui-lo.
Bem antes do livro da Carol Dweck ser publicado, nosso poeta brasileiro Dorival Caymmi, em 1970, descreveu lindamente o mindset fixo em sua música Gabriela, quando ele disse “eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim… Gabriela”, é como se houvesse uma vitrola cantarolando o tempo todo um certo julgamento “eu não consigo”, “é difícil demais pra mim”.
Ou seja, os desafios são evitados, posso desistir facilmente diante de obstáculos, vejo os desafios como uma ameaça à minha competência, “não foi pra isso que nasci”, “não vou fazer, não dou conta”, “isso não é da minha época”, “já estou velho (a) demais pra isso”, “deixa isso para os mais novos...”
As pessoas com mindset fixo acreditam que suas habilidades e inteligência são inatas e imutáveis. Elas pensam que nasceram com um certo nível de talento ou capacidade que não pode ser significativamente alterado, não recebem muito bem feedbacks, podendo levar como critica pessoal.
Já o mindset de crescimento se baseia na crença de que você é capaz de cultivar suas qualidades básicas por meio de seus próprios esforços e da experiência. Aqui o ponto focal é o desenvolvimento, existe uma cresça de mudança possível para essa pessoa “o que posso aprender com isso”, “como posso me aperfeiçoar”, “eu vou conseguir”. Esforço, aprendizado e dedicação, são molas propulsoras para o desenvolvimento das habilidades e inteligência, elas persistem diante de dificuldades, usando obstáculos como motivação para se esforçar mais.
A teoria de Dweck enfatiza que, embora possamos ter uma tendência para um tipo de mindset, é possível cultivar um mindset de crescimento através de práticas e crenças positivas sobre o aprendizado e o desenvolvimento contínuo.
Você já tentou aprender algum esporte novo? Eu mesma decidi a aprender a surfar após os 40. Desafiador, não é mesmo? Ainda mais por se tratar de um esporte com tantas variáveis e uma exigência física extrema.
Inúmeras vezes, diante de uma praia diferente ou com ondas maiores, uma prancha nova, ou um dia onde meu físico está mais debilitado ou até mesmo do frio, me desafio a pensar na experiência de tentar surfar como uma oportunidade de aprendizado e crescimento e procuro persistir diante das dificuldades, sempre aprendo um pouco mais e isso me motiva a me esforçar, quanto mais me dedico mais melhoro.
Outra maneira de desenvolver esse modelo mental de crescimento, é buscar ter mais autoconsciência sobre seus padrões, medos, anseio.
Uma ótima prática para isso é o Journaling, ou Escrita reflexiva, uma prática onde o objetivo é escrever diariamente o que está ressoando em você e, essa escrita te dá indicativos do que está pairando em seus pensamentos, emoções e te ajudam a conhecer o que é importante para você, suas necessidades e a adotar posturas diferentes e mais positivas frente às situações.
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Também gosto muito da prática de trocar a resposta por uma pergunta. Praticarmos a curiosidade e o lugar do não saber mesmo nos assuntos que dominamos, nos permitindo expandir nossa zona de conhecimento trazendo pontos de vista diferentes. Parece interessante, não é mesmo?
A verdade é que muitos de nós enfrentamos desafios, como os da Valen, com uma crença de que não vamos conseguir, achamos complexo, difícil, nos defendemos “eu sou de humanas...” não conseguiremos sair do lugar, largaremos a bicicleta e deixaremos de ver o rio que corre a três metros de nós.
A verdade é que essas ambiguidades, incertezas, medos e diferenças nos fazem sermos humanos. Em uma conversa com a Gerente de RH do Senac Nacional, Danielle Castilho, ela ressaltou uma verdade do nosso tempo quando disse: “A gente tem que ser cada vez mais corajoso para ser humano”.
É essa coragem nos indica que teremos que aprender a lidar, e cada vez mais rápido, com as mudanças de diferentes naturezas que as novas tecnologias e a Inteligência Artificial já estão aportando. Nos esforçarmos para desenvolver habilidades, estratégias e boas ações com dedicação e nos relacionarmos com tudo isso no agora com abertura.
Como bem disse Antonine de Saint-Exupèry, o futuro não é um lugar que estamos indo, mas um lugar que estamos criando.
E aí, você está criando esse futuro no agora?
Se quiser levar o tema mindset para sua organização, acesse: mudança de mindset e veja como a Eight aborda esse tema!
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Magali Lopes, também Maga Gomes
É psicóloga, facilitadora de diálogos e mediadora de conflitos.
Aprende a utilizar a Inteligência Artificial com os amigos consultores e as vezes se acha muito “velha” pra isso, mas logo percebe que pode desenvolver seu modelo mental e aos poucos vai se desafiando e se encanta com o que tem descoberto.
Saiba mais:
Artigo de Renato Grau - Para Onde Está Indo a IA?
Livro "Mindset – A nova psicologia do sucesso", de Carol S. Dweck, ph.D.
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