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  • Foto do escritorValeska Scartezini

Por trás dos crachás

Atualizado: 3 de abr.

Chegamos ao aeroporto e a primeira coisa que nos entregaram foram os crachás. Neles, estavam escritos nossos nomes e o nome da empresa que representávamos. No meu caso, apenas o meu nome, pois eu estava acompanhando o meu marido.


Estou me referindo a uma viagem de negócios e relacionamento que ocorre todos os anos e que eu tive o prazer de ir este ano, ao lado do meu marido.


A ideia é que os alto executivos e executivas da área de Marketing levem seus acompanhantes numa viagem de poucos dias, mas de muita conexão, troca e, por que não, diversão.



O que acontece quando podemos conhecer as pessoas para além dos crachás em eventos corporativos? Conexão e vulnerabilidade.


E os crachás são uma importante ferramenta de comunicação, pois ajudam a identificar as pessoas (o grupo é grande e sempre há alguém que está indo pela primeira vez) e as empresas (para que as sinergias de negócio possam acontecer).


Para resumir, o evento é um sucesso! Conversando com os organizadores, soube que tem fila de espera entre as empresas que patrocinam o evento. E não é para menos: é impressionante ver a intensidade da conexão que acontece ali e os resultados que estas conexões geram.


Ao longo da programação diária, há um momento em que alguns dos executivos participantes são convidados a falar para todo o grupo e compartilhar cases e experiências vivenciadas recentemente.


A considerar a natureza do evento, estava ansiosa por este momento, pois fiquei pensando na variedade de cases que eu iria conhecer, visto que os executivos convidados trabalham em empresas que atuam em diferentes ramos.


Estava pensando que os assuntos poderiam ser relacionados a inovação, lançamento de produtos, reposicionamento de marcas, campanhas premiadas. Entretanto, para minha surpresa, o que vi (e ouvi) foram depoimentos muito pessoais, ligados ao que eles viveram, mais ainda, ligados a como eles sentiram e como lidaram (ou ainda estão lidando) com as diferentes situações, escolhas e desafios experimentados.

Uma pessoa compartilhou sua experiência de vida ao se mudar para um país muçulmano e gerenciar um time multicultural composto por africanos, russos, ucranianos, árabes, turcos entre outras nacionalidades.


Como a sua liderança foi fundamental nas decisões que precisaram ser tomadas quando a Rússia invadiu a Ucrânia, no sentido de cuidar dos colaboradores e de suas famílias que estavam vivendo em meio a uma guerra, mesmo sem esta pessoa nunca ter sentido a dor de ver sua cidade e sua história destruídas por bombas.


Outra pessoa compartilhou os aprendizados que teve ao aceitar uma posição em outro estado brasileiro. Sua fala começou com “Eu tenho 60 anos e descobri que eu achava que sabia tudo, mas na verdade eu nada sei”.


Esta pessoa estava se referindo às diferenças culturais, sociais, comportamentais que existem quando penetramos Brasil adentro, ao tanto que limitamos nossa visão ao que se passa no eixo Rio-São Paulo e acabamos tomando decisões enviesadas por uma realidade que não representa o todo.


Ela compartilhou o quanto seu universo interior se expandiu com esta experiência. Nesta hora, consegui entender o que ela estava dizendo, pois tive a oportunidade de morar por cinco anos em Porto Alegre e foi uma experiência transformadora para mim.


Em outro momento, uma pessoa fez um desabafo sobre as dores que ela sentiu (e ainda sente) por ter feito um grande desligamento na empresa. As noites sem dormir tentando encontrar um critério, algo que pudesse dar algum sentido para algo que não tinha o menor sentido quando se pensasse no impacto que isto teria na vida das pessoas que seriam desligadas.


Também teve um momento em que uma pessoa compartilhou sobre o dilema de se sentir realizada profissionalmente e, ao mesmo tempo, estar consciente do preço que ela paga todos os dias por suas pequenas ausências nas vidas das pessoas que ela ama. E quais perguntas esta pessoa se fazia diariamente para checar se suas escolhas continuavam valendo a pena e alinhadas com os seus valores de vida.


Nesta mesma linha, uma pessoa chegou a fazer uma confissão e um compromisso com o grupo (ou melhor, com ela mesma): ela disse que a maior meta que ela iria alcançar seria buscar ser sempre a melhor versão dela para a sua família.


O indicador desta meta seria estar sempre lá para eles, nos grandes e pequenos momentos. E as ações para isto seriam a de equilibrar melhor a, tão muitas vezes desequilibrada, equação “trabalho-vida pessoal”.


O tema da diversidade e equidade também esteve presente. Não de uma forma superficial, no que tange, por exemplo, ao casting das campanhas de marketing. E sim, como uma grande provocação ao verdadeiro poder de transformação que cada líder ali sentado possui.


As profundas e consistentes transformações que aquelas pessoas são capazes de fomentar com as suas decisões. Numa das falas, uma pessoa compartilhou que cancelou a produção de uma campanha pois, ao chegar na produtora, encontrou uma equipe nada diversa. Sua reação imediata foi questionar o responsável, perguntando: “De que adianta você me apresentar um casting de modelos diverso se a sua produtora, não é?”.


Na mesma linha, outra pessoa chegou a compartilhar os danos pessoais que sofreu por ter conduzido uma campanha que “mexeu no queijo” de quem não queria mudar o status quo. E que, ao final, tudo valeu a pena quando ela ouviu sua mãe dizer “Só você para levar isto até o final”.


A propósito, as mães foram citadas em vários momentos: como fonte de inspiração, como pilar de sustentação para os momentos mais difíceis, como lembrança dos valores que merecem ser seguidos.


Além de muito interessada, fui percebendo que eu estava emocionada ao ouvir aquelas histórias, a ponto de perceber meus olhos mareados e de me sentir agradecida por estar lá, naquele exato momento, testemunhando tamanha demonstração de força e vulnerabilidade.


Por um momento senti que o tempo parou. Me lembrei dos meus sócios na Eight e da dedicação com que todos fazem o seu trabalho para promover diálogos que realmente transformem. Antes de mais nada, estes diálogos ocorrem dentro de cada um, no íntimo do ser, quando conseguimos nos conectar com o que realmente está vivo em nós. Foi o que aconteceu naquele momento, com aquelas pessoas tão destacadas nas suas posições.

Sabemos que emoções e sentimentos podem ser, muitas vezes, um terreno árido e desconhecido, afinal de contas, não fomos alfabetizados emocionalmente desde pequenos. Sabemos também que sentimentos e emoções no ambiente corporativo podem ser vistos como antagônicos a resultados e performance.


No entanto, se conseguirmos olhar para este conjunto de informações valiosas a respeito do que está ocorrendo dentro de nós, temos a oportunidade de fazer escolhas coerentes com nossos valores, de atuar de forma mais protagonista e, em última instância, ser inspiração para quem está ao nosso redor.


Ao final do quarto dia de viagem, já dentro do avião, retornando para casa e com o meu crachá guardado na bolsa (afinal de contas, nós já nos conhecíamos muito bem), pude entender o porquê deste evento ter fila de espera para novos patrocinadores: não há nada mais poderoso do que a conexão que se gera quando as pessoas são corajosas a ponto de mostrarem suas vulnerabilidades, ou melhor, de se mostrarem por trás de seus crachás.


Este artigo foi escrito por Valeska Scartezini, coach, mediadora de conflitos e membro da Eight∞ Diálogos Transformadores. Valeska é uma aquariana comunicativa, apaixonada pelo seu marido e grata pelos momentos que desfrutam juntos. Acredita que o autoconhecimento é a grande chave de transformação, já andou pelo mundo do marketing e agora está descobrindo profissionalmente o universo do desenvolvimento humano.

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