Toda vez que sou procurada por um coachee por causa da minha transição de carreira fico pensando: como, de verdade, ela aconteceu? Quais foram os primeiros sinais?
Eu realmente gostava muito de fazer o que fazia: tinha desafios intermináveis e estava sempre aprendendo alguma coisa nova, dois motivadores essenciais para mim. Porém, a 5 anos atrás quando quase rompi o ligamento do joelho e precisei ficar por várias semanas em casa percebi que algo havia mudado. Essa não era a primeira vez que fui “forçada” a ficar em casa, mas foi diferente. Todas as outras vezes me organizei para estar completamente conectada ao escritório já no dia seguinte, não queria perder nada do que estava acontecendo e mantinha meu ritmo de trabalho quase sem nenhuma modificação.
Dessa vez fiz questão de não me conectar, não queria estar envolvida nos problemas e decisões, queria aprender outras coisas, fazer outras coisas e este sentimento me gerou angústia e me tirou algumas noites de sono tentando responder a famigerada pergunta: “O que eu sei fazer além do que faço todos os dias no meu trabalho? ”
Hoje gostaria de contar através da minha experiência pessoal como, muitas vezes, o que está ali, debaixo dos nossos olhos, pode ser a resposta para essa primeira dúvida que surge quando pensamos em transição de carreira.
Há uns 10 anos, minha prima me pediu um favor, que na época me pareceu muito estranho: se eu poderia encontrar com o filho da chefe dela. Ele tinha voltado do Canadá depois de estudar e trabalhar lá por alguns anos num fundo de sustentabilidade e gostaria de conversar com alguém que pudesse clarear o que ele poderia fazer agora, de volta ao Brasil. Minha prima achava que eu poderia construir com ele uma boa conversa em torno das possibilidades de carreira já que ele focava em mercado financeiro e eu era uma executiva desse setor. Encontrei com ele um par de vezes e me peguei realmente envolvida em ajudá-lo a encontrar um caminho profissional.
Uma outra vez fui almoçar com um amigo da minha sobrinha que “queria ter algumas ideias de como se recolocar” pois ele resistia imensamente a procurar uma nova posição na área comercial (onde seu talento natural residia), pois gostava muito da área técnica e desejava ser reconhecido por isto. Lembro de seus olhos brilhando quando, durante a conversa, ele notou que esse era exatamente o seu diferencial: um excelente comercial com fortes características técnicas.
Meus olhos também brilharam com a sensação de felicidade que me inundou quando vi autoconfiança e autoestima aparecerem naquele olhar. Em menos de um mês ele encontrou uma posição numa grande empresa americana e hoje é um realizado jovem executivo. Nunca me esquecerei daquele almoço.
Eu sempre gostei dessas conversas bilaterais, da possibilidade de abrir novas janelas e descobrir novas perspectivas, mas achava que era só porque eu gostava de dar conselhos e de perguntar coisas a partir de outro ângulo... o que sei é que um caso puxou outro e mais outro e quando eu vi tinha uma agenda cheia de almoços e cafés, com pessoas do trabalho, amigos, amigos de amigos... para conversar sobre carreira, angústias do dia-a-dia, como sair de saias-justas... para mim era um prazer estar com as pessoas e esses compromissos eram tão importantes quanto as minhas reuniões no trabalho.
Contando agora parece muito claro que eu já deveria ter a resposta do que sabia fazer além do trabalho! Mas durante muitos anos não me passava pela cabeça olhar para esse meu “prazer pessoal” como uma profissão, afinal acreditava piamente que só me procuravam porque eu era uma executiva bem sucedida. Foi quando admiti que essas habilidades eram minhas (e não do meu cargo) que eu pude dar um passo adiante na minha transição.
Se você está pensando em mudar de carreira e não sabe o que fazer de diferente vale observar:
No que as pessoas te pedem ajuda e você faz, com sorriso no rosto, sem esforço? (eu ia aos almoços e cafés por puro prazer).
As pessoas próximas a você reconhecem habilidades suas para as quais você não dá valor? (minha prima viu que eu poderia contribuir com o filho da chefe).
Quais são suas crenças sobre essas habilidades? (eu acreditava que era procurada pelo meu cargo e não pela minha pessoa).
Christine Bona é Coach e Membro da Eight. Agente de Transformação Cultural. Buscando sempre o novo para apoiar pessoas na descoberta e construção do caminho em direção ao seu propósito. Finalizou sua transição de carreira em julho de 2018.