top of page
  • Foto do escritorFernanda Abrantes

A prática da abordagem centrada na pessoa em Coaching*

“Se eu deixar de interferir nas pessoas, elas se encarregam de si mesmas. Se eu deixar de comandar as pessoas, elas se comportam por si mesmas. Se eu deixar de pregar as pessoas, elas se aperfeiçoam por si mesmas. Se eu deixar de me impor as pessoas, elas se tornam elas mesmas” LAO-TSÉ

(Citação de Carl Rogers resumindo o princípio da Abordagem Centrada na Pessoa)

Atualmente, muitas formações e cursos em coaching promovem um amplo arsenal de ferramentas e técnicas para a realização da prática do coaching. Essas possuem seu valor e relevância para a realização de uma prática efetiva, porém não é tudo. Segundo a CSA – Coaching Supervision Academy -, “Who you are is how you coach”, ou seja, você faz coaching como você é.

As técnicas, conceitos e ferramentas são objetos intermediários, mas a essência do processo está na atitude e jeito de ser do coach, e aí que está o segredo do negócio. Na busca pelo desenvolvimento dessa atitude de “ser coach”, encontramos a ACP, a Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida pelo psicólogo americano Carl Rogers, que não prevê técnicas, e sim, um jeito de ser.

Em seu livro “Comunicação Não Violenta”, Marshall Rosenberg, quem estruturou essa linguagem, nos diz o quanto ele era especialmente grato por ter estudado e trabalhado com Carl Rogers quando este pesquisava sobre a Abordagem Centrada na Pessoa. Os resultados das pesquisas de Rogers desempenharam papel fundamental na evolução do processo de comunicação descrito por Marshall.

O pressuposto básico da ACP é que a melhor maneira de uma pessoa se desenvolver é confiar no seu potencial e na sua condição natural de pensar, sentir, buscar e se direcionar no caminho de suas necessidades. Pela visão centrada na pessoa, o coachee precisa apenas de condições especiais para rever a maneira como ele está se desenvolvendo e, para isto, o coach busca criar essas condições para que a pessoa perceba, em si própria, o seu caminho e as suas respostas.

Segundo Rogers (1959), “Todo organismo é movido por uma tendência inerente para desenvolver todas as suas potencialidades de maneira a favorecer o seu enriquecimento”. A partir deste pressuposto, chamado de “Tendência de atualização”, derivam as condições que são facilitadoras na relação para que a pessoa se auto dirija, então ela tende a ampliar o seu repertório interno e a buscar novas formas de se atualizar, ganhando maiores condições de encontrar mais harmonia interna e, em consequência, uma maior harmonia com o seu meio. Essas condições são:

1. Compreensão empática: é imprescindível que, tanto o coach quanto o coachee, sintam-se bem e verdadeiramente disponíveis nessa relação. O coach deverá, então, ser capaz de enxergar a pessoa, buscando se aproximar da visão dela, tendo, desta forma, maior disponibilidade interna em se livrar dos seus princípios e valores e de compreender melhor o outro sob a perspectiva do outro, seus motivos, seus medos e sentimentos e, consequentemente, mais condições de não julgar ou direcionar a relação do coaching. Requer sensibilidade para perceber as mudanças que se verificam ao longo do tempo, associada à presença em Coaching, estando aberto para o desconhecido, possibilitando despir-se dos seus próprios valores e julgamentos, para poder estar por inteiro, de corpo e alma, com os sentimentos e valores do outro.

2. Congruência: é a atitude do coach em ser autêntico quanto aos seus sentimentos e percepções em relação ao coachee, praticando a competência da comunicação direta. É importante que tudo que o coach sente, de forma persistente na relação, seja dito. Com empatia, cuidado, respeito, mas principalmente com autenticidade. Quando o coach assume seus sentimentos como seus, além de dar ao outro a oportunidade para pensar a respeito, estimula o coachee a assumir seus sentimentos e expressá-los, apoiado na aceitação e não julgamento. Nesse sentido, são estabelecidas confiança e intimidade com o cliente, criando um ambiente seguro, de apoio, que produz respeito e confiança mútuos.

3. Aceitação Incondicional Positiva: é a capacidade do coach em aceitar o coachee sempre de maneira positiva, entendendo que este está sempre, à sua maneira, procurando se sentir bem e se desenvolver, ou seja, se atualizar. Se o coach consegue, de fato, ser empático e tem a convicção de que o coachee busca sempre as alternativas que entende como melhores dentro do seu repertório interno, através da tendência atualizante, fica mais fácil aceitar a pessoa, mesmo não entendendo ou não concordando. Aceitar não significa concordar. É importante que o coach tenha claro o que é dele e o que é do outro, pois mesmo que sinta de forma diferente, ele terá maiores condições de respeitar o sentimento e a atitude do outro.

Em um ambiente onde a pessoa sinta-se verdadeiramente aceita e acolhida, livre de ameaças, ela tende a ser ela mesma e a entrar em contato consigo própria para buscar aquilo que julga importante para o seu desenvolvimento pessoal. O conhecimento do coach tem importância, nessa perspectiva, desde que não crie uma relação assimétrica com o coachee e construa uma barreira, perdendo a disponibilidade real em ouvir o outro desprovido de técnica.

Quando associamos isso à Comunicação Não Violenta, com seus elementos inspirados na ACP, encontramos uma maneira prática e consciente de criarmos esse ambiente seguro e vivenciarmos esse jeito de ser por meio da linguagem. Contudo, não adianta falarmos sobre princípios e pressupostos da ACP se o coach, acima de tudo, não viver, acreditar nesse jeito de ser. Caso contrário, isso poderá ser visto apenas como uma técnica e isso, por si, irá ferir o imprescindível em uma relação coach e coachee, que é a autenticidade.

* artigo publicado na Revista Coaching Brasil #61

0 visualização0 comentário
bottom of page