Em julho passado, acompanhada de uma grande amiga e parceira, fui para França, vivenciar um retiro para mulheres. Todo o retiro era baseado na Comunicação Não Violenta (CNV), com o tema Sagrada Empatia. A anfitriã, Holley Humprey foi amiga por mais de 30 anos do criador da CNV, Marshal Rosemberg e é mencionada por ele em seu livro quando ele aborda o tema Empatia.
Eram diferentes mulheres com diferentes culturas - Brasil, França, EUA, Escócia e Alemanha. Vivenciamos o retiro em comunidade, em uma casa a beira mar. Ouvíamos umas às outras em roda, cozinhávamos, chorávamos, cantávamos, arrumávamos a casa, meditávamos. Vivenciamos realmente uma sagrada empatia, co-construimos um lindo espaço de amor.
O que, para mim, foi o fio condutor que possibilitou a criação desse ambiente de abertura, acolhimento e harmonia, mesmo entre pessoas tão diferentes? O ouvir. Mas não qualquer ouvir. Um ouvir genuíno. Que vinha das entranhas, um ouvir com intenção. Um ouvir que acolhe, que não julga. Um ouvir consciente que está a serviço do outro. Que escolhe estar a serviço do outro. Um ouvir que não procura soluções, um ouvir que cria o espaço para o outro se revelar e ser quem realmente ele é. Sem medo, mas sustentado pelo amor de quem o ouve.
E o mais incrível foi perceber a força e o poder que esse ouvir, com essas qualidades e nuances, possui. A cada rodada de escuta empática, a mulher que estava sendo ouvida por todas as outras saía transformada e as que estavam ouvindo também!!! Mais do que uma roda de escuta viva, era uma roda de sustentação, de amor e acolhimento. Pude vivenciar mulheres doando força uma para as outras por meio desse exercício do ouvir genuíno. Foi lindo. Vivo. Inspirador.
Quando lembro dessa experiência, foco meu olhar para o meu ouvir, não o da coach Debora, mas o ouvir do dia a dia. Sim, aquele ouvir, da minha filha querendo contar algo incrível sobre o recreio enquanto eu acabei de receber o email que tanto estava esperando. Ou do meu marido contando sobre a estrutura de um novo equipamento que é importante para ele enquanto eu preciso decidir o que fazer para o jantar. Ou ainda, quando uma amiga vem me contar algo específico sobre ela que, para mim, não é novo. Ou a minha irmã discutindo sobre um problema da família. Será que nessas situações eu realmente ouço o outro? O que estou proporcionando às pessoas que conversam comigo diariamente?
Nesse caminho de quase 4 anos de pesquisa em Comunicação Não Violenta, tenho aprendido que o falar é muito importante. Mas o ouvir é a base de tudo. E para mim, ele começa não no ouvido, mas no coração, na consciência e na nossa disposição em nos conectarmos verdadeiramente com o outro. Não tem sido um caminho fácil. Eu erro, acerto, aprendo, erro de novo, desanimo, me animo. Mas tem sido incrível. Eu não ousaria viver de outra maneira.
E você, o que precisa despertar em seu ouvir?
Debora, 36 anos, mãe, coach, mediadora e facilitadora em CNV – Comunicação Não Violenta, busca vivenciar diálogos com mais qualidade e conexão.