Num certo domingo, lá estava eu em um curso com uma especialista em novas economias, futurista com alta expressividade neste meio chamada Lala Deheinzelin. Tinha muito interesse em conhecer mais sobre o tema, por isso estava atenta ao que ela apresentava com tamanha desenvoltura e experiência.
Algumas coisas até já eram conhecidas no meu universo, outras foram gratas e espantosas surpresas, contudo, naquela tarde, houve uma frase que por dias não saiu da minha cabeça. Uma afirmação que como uma música tocava sem parar: “o mundo é exponencial, mas nós não…”.
Que o mundo está passando por mudanças sem precedentes, principalmente relacionadas ao processo de transformação digital não era novidade para mim, e acredito que para nenhuma das mais de 30 pessoas que estavam no mesmo curso. Porém, como em uma fração de segundos, minha semana veio à tona e a sensação de dever “não” cumprido com as inúmeras informações que não havia conseguido “dar conta”.
Respostas nos inúmeros grupos de WhatsApp, os capítulos das séries a que não havia conseguido assistir, os posts que não havia conseguido ler, os livros que até hoje estão na cabeceira da minha cama sem tocar, os contatos para amigos que não havia conseguido retornar, os filmes recém lançados no cinema, as exposições que havia separado no jornal, mas que não havia conseguido visitar, artigos que não havia escrito e/ou lido, os novos aplicativos que não havia baixado, nem as atualizações dos antigos que já uso, os temas de interesse não estudados e tudo mais que estava na minha caixinha de “to do” (para fazer), em uma fração de segundos veio à minha mente como um tsunami. Tudo tomou uma forma especial e se encaixou no lugar do “possível” para mim.
São diversos novos temas, matérias, assuntos, variando de inteligência artificial, robótica, impressões 3D, biotecnologia, bioinformática, programação, aff… todos ainda mais expostos, falados, comentados. Fica ainda mais claro que vivemos em um mundo conectado de uma forma extremamente transbordante.
Tecnologias avançando em um ritmo exorbitante e chegando à nossa realidade, megatendências que estão mudando profundamente como trabalhamos ou vivemos. Número de conexões, produções e resoluções que realmente nos assolam de um sentimento de débito incansável, sufocante, exaustivo, um sentimento de: o que perdi agora?
Também me dei conta de que a frase tinha uma segunda sentença: “precisamos ter consciência do que é possível para nós, saber do limite de cada coisa, inclusive o nosso”.
Neste momento uma brisa forte soprou no meu rosto como se houvesse um ar puro para ser respirado, uma esperança diferente, um horizonte a ser observado e percebido.
Refleti sobre a mudança do mundo sim, mas também refleti sobre a importância de me aproximar ainda mais do que realmente é importante e tem valor para mim.
Algumas perguntas pairaram pela minha cabeça:
Qual é o impacto de tudo que gostaria de saber, ver, experimentar, estudar sobre a minha vida?
Qual o equilíbrio destas coisas todas sobre mim?
Se existe limite, qual é o meu?
O que entra em mim e o que eu preciso e quero deixar mais distante que não tem valor agora?
O quanto quero “de verdade” me dedicar para cada uma destas coisas?
O que me fará mais feliz e por quê?
De tudo que está à minha disposição, o que me fará mais realizada?
Com o que quero me conectar?
Várias destas perguntas também pipocaram na minha cabeça e talvez não tenha respostas para todas ainda, mas me fizeram enxergar que tudo bem se eu não conseguir “dar conta” do movimento acelerado que o mundo está proporcionando.
“Nada mais limitante do que acreditar não ter limites”
Elaine Brum
Meu tempo não é o mesmo, sou linear, meu dia tem apenas 24 horas e realmente preciso saber conscientemente como quero investir esta fração de tempo que me é disponível diariamente, afinal, para dar conta de tudo que é gerado, precisaríamos ficar “ligados” a toda hora e momento — impossível!
Não quero com isso dizer que não precisamos ser interessados ou curiosos a respeito das mudanças que o mundo está nos proporcionando, pelo contrário, estar atentos a isso nos fará termos uma relação mais amistosa com estes novos modelos e poderemos tirar maior proveito de tudo que temos à nossa disposição, principalmente pela certeza de que as mudanças não vão parar por nossa causa, então não há motivos para lutar contra elas.
Quero dizer, portanto, que estas transformações não podem nos distanciar da percepção que cada um pode e deve ter de si.
Sentimentos, valores, interesses genuínos, motivações devem ser mais claros ainda.
Mesmo quando levamos esta reflexão para o âmbito organizacional e estudamos sobre organizações exponenciais, aquelas que crescem em velocidades absurdas, que são 10 vezes maiores comparadas aos seus pares, como por exemplo as novas startups, que aproveitam da tecnologia para crescer e se posicionar, precisam de um propósito.
Quanto melhor e mais desenhado, claro e consciente este propósito estiver para as pessoas, maior será o sucesso desta empresa, como se a energia fosse canalizada para aquele foco e todo o resto perdesse força ou fosse abstraído, pois existe uma paixão a ser administrada.
Observamos diariamente que esta realidade não se aplica somente a organizações chamadas exponenciais.
Esta equação de sucesso se dá simplesmente por que estas organizações são formadas por pessoas que são ou não interessadas pelo negócio, que de fato querem resolver aqueles problemas, que são apaixonadas e entusiasmadas com os “porquês” desta empresa. Este é a verdadeira locomotiva dos negócios e o olhar se desvia para esta direção.
Enfim, buscar oportunidades que realmente te engajem e te transformem pode ser libertador e gerar muita satisfação pois a energia dispensada terá foco e direção.
Agora não se engane, pois as chances de perdemos o foco é muito grande com tantas possibilidades que nos são oferecidas e expostas diariamente por diversos canais.
Calibrar nossa bússola para encontrarmos a direção correta pode ser o maior desafio que o mundo exponencial tem a nos oferecer. Mergulhar neste desafio pode exigir de nós renúncias difíceis, porém necessárias.
Sem dúvidas, acho que esta é a melhor forma de estar preparado para tantas mudanças de curto prazo.
Seja mais do que bem-vindo ao mundo exponencial e a todas as oportunidades que ele te oferece.
Eu vou continuar com a minha lista de “to dos”, tentando calibrar um pouquinho mais a cada dia, observando o que de fato me mobiliza. E você?