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Como ter mais conexão com os outros e comigo por meio do diálogo?


“Identifiquei uma abordagem específica da comunicação — falar e ouvir — que nos leva a nos entregarmos de coração, ligando-se a nós mesmos e aos outros de maneira tal que permite que a nossa compaixão natural floreça” Marshall Rosenberg

Há mais de três anos tenho estudado a CNV — Comunicação Não Violenta, que é uma forma mais compassiva e consciente de comunicação, desenvolvida pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg, utilizada em mediações de conflitos diversos, desde conflitos étnicos até organizacionais. Em muitos workshops deste tema é bem comum os participantes me questionarem: Mas Débora eu não sou violento, preciso disso? E aí que entra a grande virada!

A violência não está apenas nas agressões de fato, nos gritos ou palavras ríspidas, mas faz uma grande morada também nas interpretações, no julgamento, nas acusações e na culpa, despedaçando, muitas vezes, a conexão entre duas pessoas. E tudo é tão automático que você nem percebe isso acontecendo. E depois pode se perguntar, porque minhas relações com os outros são tão conturbadas? O que falta? A CNV pode te apoiar a responder essas dúvidas, restaurar essas relações e de quebra ainda fazer com que você se conheça melhor!

Como funciona então?

A CNV se baseia em 4 passos simples, mas muito profundos. Vamos lá:

1) Separe a observação da interpretação — Ao analisar um fato, se concentre somente nele e não em suas avaliações. Ao abordar essa situação com o outro, traga à conversa o que realmente aconteceu, a observação e não o julgamento que você fez deste ou daquele fato. Segundo Marshall, a raiz da raiva é nossa interpretação dos fatos. Por causa dela rotulamos, colocamos as pessoas em caixinhas e não enxergamos o verdadeiro ser humano por trás daquele julgamento. Quando trazemos à tona nosso julgamento, é como se colocássemos paredes em vez de janelas em nosso diálogo. Trazer somente o fato faz com que a conversa seja mais leve, mais fácil para o outro se conectar e a partir daí, ouvir.

Saem também do nosso vocabulário palavras estáticas como: você sempre, você nunca, todas às vezes.

Em vez de dizer: Você sempre chega atrasado! Eu digo: Nós marcamos às 19:00hs, você chegou às 21:00hs. Fato em vez da interpretação!

2) O segundo passo é, a partir desse fato, perceber quais sentimentos surgem, e acolher esses sentimentos, pois são um feedback desse nosso mundo interior. Os sentimentos negativos exprimem que alguma necessidade não foi atendida, que algo não está bem conosco. O interessante da CNV é que nos faz sempre voltarmos para dentro, para o EU, em vez de culpar o outro. Aqui a linguagem muda, em vez da culpa, entra a linguagem das necessidades.

Em vez de dizer: Você sempre chega atrasado! Estou com muita raiva de você. Eu digo: Nós marcamos às 19:00hs, você chegou às 21:00hs. Estou com raiva. Fato e meu sentimento.

3) Após identificar esse sentimento, vejo qual necessidade minha não está sendo atendida. A necessidade tem a ver com meus valores, com o que eu acredito. A necessidade é um campo comum, todo ser humano tem necessidades. Ao trazer para o diálogo o fato, o sentimento ligado a esse fato e a sua necessidade, o outro se conecta, se identifica, porque ele também tem necessidades. A partir dessa consciência, de analisar meus sentimentos e necessidades, também posso começar a perceber qual o sentimento e necessidade do outro. Assim, em uma conversa difícil, por exemplo, não escuto mais o insulto, o grito, o xingamento, mas me pergunto: Qual necessidade não atendida dessa pessoa está por trás disso tudo?

Em vez de dizer: Você sempre chega atrasado! Estou com muita raiva de você, você me deixa assim!! Eu digo: Nós marcamos às 19:00hs, você chegou às 21:00hs. Estou com raiva porque consideração é importante para mim. Fato, meu sentimento e minhas necessidades.

4) O quarto passo é o pedido. Ele deve ser concreto e positivo. Não pode ser vago ou filosófico, precisa ser claro, o outro deve saber especificamente o que eu estou pedindo, isso facilita as relações. Muito importante que o pedido não seja uma obrigação, senão vira uma exigência. O ideal aqui, quando seu pedido não foi acolhido pelo outro, é por as necessidades na mesa e verificar qual o melhor caminho, qual a melhor estratégia para acolher tanto a necessidade de um quanto a do outro.

Em vez de dizer: Você sempre chega atrasado! Estou com muita raiva de você!! Eu não aguento mais isso, você pode ter mais respeito comigo? Eu digo: Nós marcamos às 19:00hs, você chegou às 21:00hs. Estou com raiva porque consideração e respeito são importantes para mim. O que precisamos fazer para que da próxima vez o horário de encontro seja conforme o combinado?

Fato, meu sentimento, minhas necessidades e pedido claro e específico.

Não preciso seguir essa fórmula e ser um robô, mas ter a consciência de cada passo e sair do automatismo já é muito bacana! A imagem que a CNV traz é a da escolha. Eu posso escolher sair do automatismo nas minhas comunicações e ter um diálogo mais compassivo com o outro.

Além de uma ferramenta de construção de diálogo e consenso, a CNV pode ser um ótimo instrumento de autoconhecimento. Por exemplo, quando atuo como Coach, percebo que a CNV faz a diferença para os meus coachees na medida em que:

(a) o apoia a separar o que é fato, realidade e o que são suas interpretações e julgamentos, para que ele possa ter clareza em seus pensamentos;

(b) o ajuda a reconhecer e lidar com seus sentimentos, como algo natural do seu corpo, um sinal corporal que está lhe trazendo uma mensagem, uma verdadeira conexão com o sentir;

(c) faz com que a partir da conexão com seu sentimento, reconheça qual necessidade sua não está sendo atendida, o que é importante para ele e perceba que não é o outro que o faz sentir assim, mas sim, que tais sentimentos são frutos de necessidades suas que não estão sendo atendidas; e

(d) a partir desse caminho dos três primeiros passos, tem consciência da situação ampliada, dos seus sentimentos e suas necessidades e a partir daí pode formular com clareza, assertividade e amorosidade um diálogo efetivo consigo mesmo e com o outro.

Prontos para essa conexão?

Texto escrito por Debora Gaudencio, coach, facilitadora em CNV, fundadora da Keea Yuna e integrante da Eight

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